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  • Foto do escritorAna Lorena

Meu amigo Finlandês! - Um caso



O que você faria ao começar a fazer parte de um grupo que fala uma língua completamente diferente da sua? É verdade que algumas pessoas têm experiências parecidas com estas devido à intercâmbios ou algo do gênero. Eu mesma pude vivenciar um pouquinho disso quando cheguei a portugal por ter vivido com muitas pessoas de diversos países e nesta altura ter dificuldade para falar inglês. Precisei “me virar”!

Mas ao observar a experiência e a interação de uma criança no trabalho, algo me chamou muito a atenção.


(Os nomes utilizados ao longo da história, bem como a nacionalidade, são fictícios a fim de proteger a identidade das crianças).

Os pais de Lucas, com mais ou menos 4 anos, foram transferidos temporariamente da Finlândia a trabalho e trouxeram seu filho junto. Lucas chegou no nosso espaço (um espaço de atividades para crianças) e nos deparamos com um grande desafio: ele não fala e nem compreende a nossa língua! Como vamos saber o que ele precisa, como vamos nos fazer compreender?! Como será com as crianças?

Entretanto, ainda naquele primeiro dia, em um determinado momento enquanto as crianças brincavam livremente, me dei conta de que Lucas não estava com problemas relativamente a isto. Ele corria, brincava, falava em sua própria língua enquanto as outras crianças correspondiam mesmo sem perceber exatamente o que ele havia dito. Sorriam, brincavam com todos os tipos de brinquedos, gargalhavam. No fim, Lucas despediu-se principalmente de Fábio, com 3 anos, com quem criou uma especial amizade, talvez por ser a criança com a idade mais próxima da idade de Lucas.

No dia seguinte, ao chegar, Lucas começou logo a brincar com Fábio. Os dois pareciam muito animados por terem se encontrado. E neste dia não foi muito diferente. Os dois brincaram e por vezes até brigaram! Brigas normais, como ocorre com qualquer criança. Lucas às vezes vinha com ar irritado reclamar de alguma situação que havia acontecido com Fábio, enquanto Fábio me olhava com uma cara de quem sabia muito bem o que havia ocorrido! Posso garantir que a maior dificuldade de comunicação ocorria mais connosco, com as professoras! Mas rapidamente Lucas aprendeu a falar em nossa língua algumas coisas essenciais como quando queria ir a casa de banho, quando queria comer ou o nome da sua brincadeira favorita!

É verdade que algumas vezes Fábio me perguntava… Ana, o que ele está a dizer? Eu dava um sorriso um pouco sem graça e respondia que eu também não percebia tudo o que Lucas falava. Mas Lucas nunca deixou de tentar se comunicar connosco! Falava como se nós pudéssemos perceber tudo o que ele estava a falar! Algumas vezes, por fim, conseguimos perceber, mas outras vezes ele se frustrava por não conseguir comunicar efetivamente o que gostaria.

Lucas continuou por um bom tempo naquele local, e de forma muito rápida aprendeu algumas palavras. Demonstrava sempre um grande carinho por nós (da mesma forma que nós tínhamos por ele). Não era difícil! Ele é um menino extremamente cativante e carinhoso! Que tornou-se querido para nós não porque apresentava alguma dificuldade em se comunicar, mas justamente pelo que comunicava! Verdade que ele é um menino muito expressivo, o que ajuda, mas a sua capacidade de fazer tanto parte daquele grupo me surpreendeu! Falar outra língua não o impediu de brincar, de ter amigos (inclusive demonstrar mais afinidade com uns do que com outros), de fazer parte do grupo e até mesmo de discutir no meio de brincadeiras como qualquer criança faz!


Por fim, tudo isto me fez perguntar a mim mesma… “Qual a real necessidade da linguagem verbal para a relação?”


É claro que eu reconheço a importância da linguagem verbal! Não me condenem! Rs

Mas… Ela seria essencial para chegar à uma relação com o outro? Com a criança com a qual estamos trabalhando? Ela é essencial para transmitir uma mensagem? Um sentimento? Ou muitas vezes nós percebemos no olhar, no sorriso, no toque, na expressividade do corpo a mensagem que o outro deseja passar?


Para nós, psicomotricistas, é essencial levarmos em conta estas outras formas de comunicação e não deixarmos de ser bons leitores do não verbal. Não somente por situações como a de Lucas, que tem uma língua diferente. Mas grande parte de nós lidamos não apenas com uma dificuldade de linguagem, mas uma dificuldade de comunicação ainda mais profunda. Onde um olhar e um sorriso são uma conquista para nós! Precisamos aprender a valorizar isto. Dizem que um olhar vale mais do que mil palavras. Muitas vezes isto é tão real nas nossas intervenções! E se nós não estivermos atentos, perderemos mais de mil palavras que podem construir uma relação.


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Vou amar saber o que você achou!


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