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  • Foto do escritorAna Lorena

A Relação Neurônios Espelho e Autismo!


Uma das mais importantes características no autismo é o défice na interação social.

É comum pessoas com autismo apresentarem comportamento de isolamento, dificuldades de atenção conjunta, nas relações com os pares, na partilha de sentimentos e emoções, em se colocar na perspectiva do outro e em perceber pistas sociais. Apresentam, também, um fraco jogo social imitativo e uma ausência da partilha de interesses, prazeres ou objetos de forma espontânea, demonstrando uma reciprocidade social ou emocional limitada. Além disso, alguns aspectos no comportamento não verbal também são observados, como um baixo contacto visual, poucas expressões faciais e pouco uso de gestos durante a sua interação com o outro (APA, 2013; Siegel, 2008).

Devido à estas características na interação social, a Perturbação do Espectro do Autismo – PEA (ou Transtorno do Espectro do Autismo - TEA) tem sido muito estudada em relação aos neurônios espelho, Teoria da Mente e empatia.

Um dos primeiros estudos a fim de analisar esta relação foi feito por Obermam et al (2005). A pesquisa realizou uma análise da supressão cerebral dos ritmos das frequências mu através de um encefalograma. Foi observado que nas crianças sem nenhum diagnóstico, uma resposta significativa tanto para a execução dos movimentos quanto para a observação de um vídeo aonde era executado o mesmo movimento. Já nas crianças autistas, a resposta foi significativa apenas na execução do movimento, enquanto na observação da ação não houve resposta. Esses resultados sugerem um sistema de neurônios espelho difuncional em indivíduos com Perturbações do Espectro do Autismo.

Nos posts anteriores ("Neurônios espelho, Empatia e Intersubjetividade! O que é isso?" e "Competências Sócio-Emocionais! Podemos Trabalhar Isto?"), vimos que os neurônios espelho estão relacionados à algumas capacidades sociais, como a empatia. Dessa forma, muitas vezes é sugerido que o défice no reconhecimento das emoções e a dificuldade de se colocar no lugar do outro presente em muitos indivíduos com autismo seja explicado pela disfunção em seu sistema de neurônios espelho.

Outro aspecto importante devido à este mau funcionamento dos neurônios espelho, seria também a limitação na capacidade de imitação. Sabendo-se que a imitação está relacionada ao desenvolvimento de habilidades como a linguagem e mesmo o desenvolvimento motor, também podem ser usadas como base para compreender o défice no desenvolvimento de tais habilidades para estas pessoas.

E na prática? Como a intervenção psicomotora ajudaria?

No caso especificamente do autismo, há diversas formas em que a psicomotricidade poderia atuar auxiliando, entre outros fatores, na interação social destes.

Existem diferentes tipos de estratégias utilizadas. Alguns profissionais optam por agir especificamente na dificuldade que a pessoa apresenta. Um exemplo deste tipo de estratégia seria apresentar as diferentes emoções que uma pessoa pode ter a partir de imagens, a fim de que a criança perceba as diferentes expressões corporais ou faciais relacionadas à tais emoções o que, aos poucos, poderia possibilitar a pessoa com PEA de identificá-las no outro.

Outra estratégia seria buscar intervir não apenas na dificuldade, mas no que poderia ser a sua origem.

Por exemplo...

Ao utilizar o toque, a estimulação proprioceptiva, é possível se chegar a uma reconstrução do esquema e imagem corporal, ou seja, a criança começa a recontruir sua noção de si e de seu próprio corpo. Segundo Costa (2008), a partir das sensações proprioceptivas, a crianças começa a criar percepções. Estas percepções passam por uma análise emocional e afetiva e dão lugar às representações. A partir das representações a criança se torna capaz de simbolizar.

Para Costa (2008), uma imagem corporal fragmentada, ou seja, que não é bem estabelecida, influencia no pensamento, produzindo pensamentos desorganizados e distorcidos.

Neste tipo de interação o terapeuta busca intervir no que pode ser a origem do problema. Ou seja, este buscaria o caminho inicialmente através das experiências sensoriais e fim de alcançar a construção das representações, percepções e buscando uma imagem corporal mais bem estabelecida.

Referências:

American Psychiatric Association (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th Edition). Arlington, VA: American Psychiatric Publishing.

Costa, J. (2008). Um olhar para a criança: psicomotricidade relacional. Lisboa: Trilhos.

Obermann, L.M.; Hubbard, E.M.; McCleery, J.P.; Altschuler, E.L.; Ramachandran, V.S.; & Pineda, J.A. (2005). EEG evidence for mirror neuron dysfunction in autism spectrum disorders. Cognitive Brain Research, 24(2), 190-198.

Siegel, B. (2008). O mundo da criança com autismo – compreender e tratar perturbações do espectro do autismo. Porto: Porto Editora.

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