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  • Foto do escritorAna Lorena

Neurônios Espelho, Empatia e Intersubjetividade! O que é isso?


Já ouviu falar sobre os neurônios espelho? E a tal da empatia, tão comentada ultimamente?

Hoje damos início a uma série de posts aonde falaremos sobre este assunto que tem sido tão discutido e que tem influência em diversos aspectos do desenvolvimento psicomotor e socio-afetivo de cada um de nós!

Pra começar... O que são os neurônios espelho?

Todo mundo já teve aquela vontade de tossir ao ouvir outra pessoa tossir!

Ou, quem sabe, aquele bocejo incontrolável logo após nosso amigo com quem conversamos fazer o mesmo!

Estes são só alguns exemplos bem práticos do funcionamento dos neurônios espelho em nosso dia a dia.

Os neurônios espelho foram descobertos por Rizzolatti (1996) e são considerados uma subclasse de neurônios visuo-motores. Esses neurônios são ativados quando executamos uma ação e também quando observamos uma ação.

Esta ativação dos neurônios espelho durante a observação de uma ação é a grande contribuição para importantes aspectos relacionados ao desenvolvimento motor e socio-afetivo. Enquanto observa-se, por exemplo, uma pessoa pegar um copo com a mão, são ativados em nosso cérebro os mesmos comandos para executar o movimento que está sendo observado, mesmo que não executemos o movimento (Rizzolatti et al, 1996).

A nível da aprendizagem e desenvolvimento, este processo que ocorre a partir dos neurônios espelho possibilita a imitação e é importante para que ocorra a aprendizagem por meio desta.

No desenvolvimento infantil, muitas das aprendizagens, como o desenvolvimento da linguagem, o desenvolvimento motor, as funções executivas e a Teoria da Mente, ocorrem a partir do observar e imitar o que foi observado (Rizzolatti & Craighero, 2004; Maeda, Kleiner-Fisman, & Pascual- Leone, 2002).

Mas foi no estudo de Icaboni et al. (2005), aonde se sugeriu que o sistema de neurônios espelho não está apenas relacionado ao reconhecimento da ação, mas também parece estar atuando no julgamento da intenção da ação. Hoje, sabe-se que estes também são importantes pra Teoria da Mente e empatia.

E o que é a Teoria da Mente?

Segundo a Teoria da Mente, existe em nosso cérebro um circuito neuronal específico que nos dá a capacidade de pensar sobre nós mesmos e sobre o outro, pensar sobre a nossa mente e sobre a mente do outro, e também de prever determinados comportamentos no outro. É a capacidade que temos de atribuir um estado mental ao outro e a nós mesmos (Caixeta & Nitrini, 2002; Teixeira, 2006).

Ou seja, é o que nos torna capaz de compreender o que o outro sente, de pensar no que o outro sente.

A Teoria da Mente tem sido utilizada na compreensão dos défices na interação social presente em algumas perturbações neurológicas, como o autismo e a esquizofrenia (Klein & Kihistrom, 2002).

Existe um complexo sistema a partir de algumas funções cerebrais envolvidos na Teoria da Mente. São destacados por Baron-Cohen (1996, in Caixeta & Nitrini, 2002) quatro módulos cerebrais: o móduo detector de intencionalidade, o módulo detector da direção do olhar, o módulo do mecanismo de atenção compartilhada e o módulo do macenismo da teoria da mente.

Ainda uma outra explicação da Teoria da Mente é chamada de Teoria da Simulação. De acordo com esta, o nosso cérebro é capaz de simular o que se passa com outra pessoa enquanto a observamos. Isto não ocorre apenas referente às ações motoras, mas possibilita uma pessoa se colocar no lugar da outra, compreendendo suas ações e suas emoções. Esta capacidade de simular as intenções, ações e emoções, permitindo uma percepção subjetiva é chamada empatia (Ferreira, 2011).

Como vimos no vídeo do post anterior ("E a tal da Empatia? O que é?") existe grande diferença entre empatia e simpatia!

A empatia também se diferencia um pouco da própria Teoria da Mente, sendo esta não apenas a capacidade de identificar a emoção que o outro está sentindo, mas a capacidade de se colocar no lugar do outro de forma a sentir com o outro.

Há ainda outra função social importante que está ligada à função dos neurônios espelho e à empatia: a intersubjetividade.

A intersubjetividade é observada em nós desde bebês. Algo interessante que Ferrari e Gallese (2007) observaram foi que os bebés tem a capacidade de imitar, entretanto percebe-se que a imitação só ocorre a partir de uma relação aprofundada entre bebé e mãe. Esta relação aprofundada é chamada intersubjetividade, adquirida a partir da capacidade de compreender a inteção e o sentimento do outro (Ferrari & Gallese, 2007).

Para os autores Ferrari e Gallese (2007), o sistema sensório motor na criança já está programado para compartilhar experiências de forma participativa. Esta participação seria um dos princípios da intersubjetividade. É a partir disto que os bebés encontram-se aptos para experimentar sensações não só como primeira pessoa, mas também como terceira pessoa: o outro.

Em uma fase mais avançada do desenvolvimento, após a criança ter adquirido a fala, a intersubjetividade aparece na capacidade desta de compreender a intenção das ações do outro. Como vimos antes, os neurônios espelho contribuem para esta capacidade de julgamento da intenção das ações. Desta forma, Ferrari e Gallese (2007) concluem que há uma contribuição dos neurônios espelho também para nossas funções sociais.

E esta capacidade de compreender a intenção do outro também está ligada ao desenvolvimento motor. Tanto o desenvolvimento motor dá base para o reconhecimento das intenções do outro, como este reconhecimento também é necessário para um desenvolvimento motor fortemente adaptado (Ferrari & Gallese, 2007).

Mas estas funções sociais podem ser aprendidas ou aperfeiçoadas?

Nos próximos posts falaremos um pouco mais sobre o tema. Falaremos também o porquê estuda-se tanto sobre a Perturbação do Espectro do Autismo (ou Transtorno do Espectro do Autismo) relacionado aos neurônios espelhos.

E é claro que falaremos um pouquinho sobre a intervenção psicomotora nestes casos!

Referências:

Caixeta, L., & Nitrini, R. (2002). Teoria da Mente: uma revisão com enfoque na sua incorporação pela Psicologia Médica. Psicologia: reflexão e crítica, 105-112.

Icaboni, M., Szakacs, I. M., Gallese, V., Buccino, G., Mazziotta, J. C., & Rizzollati, G. (2005). Grasping the intentions of others with one’s own mirror neuron system. PLoS Biology, 3 (3), 79, 529-235.

Ferrari, P. F., & Gallese, V. (2007). Mirror neurons and intersubjectivity. In S. Braten, On being moved: from mirror neurons to empathy (pp. 73-88). Philadelphia: John Benjamins Publishing Company.

Klein, S., & Kihistrom, J. (2002). On Briding the Gap between Social – Personality Psychology and Neuropsychology. In J. T. Cacioppo, G. G. Berntson, R. Adolphs, C. S. Carter, R. J. Davidson, M. K. McClintock, B. S. McEwen, M. J. Schacter, E. M. Sternberg, S. S. Suomi & S. E. Taylor (Eds.), Foundation in Social Neuroscience: Massachusetts Institute of technology.

Maeda, F., Kleiner-Fisman, G., & Pascual-Leone, A. (2002). Motor facilitation while observing hand actions: specificity of the effect and role of observer’s orientation. Journal of Neurophysiology, 87, 1329-1335.

Rizzolatti, G., & Craighero, L. (2004). The mirror-neuron system. Annual Review of Neuroscience, 27, 169-192.

Rizzolatti, G., Fadiga, L., Gallese, V., & Fogassi, L. (1996). Premotor cortex and the recognition of motor actions. Cognitive Brain Research, 3, 131–141.

Teixeira, J. M. (2006). Teoria da mente - uma controvérsia. Saúde mental, VIII(3), 7-10.

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