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  • Foto do escritorAna Lorena

A Psicomotricidade pelo Mundo - França


No último post A Psicomotricidade pelo Mundo, entendemos um pouquinho de como atua a psicomotricidade na França, de acordo com a Federação Francesa de Psicomotricistas.

Para nos ajudar um pouco mais a compreender como a psicomotricidade é vista na França, hoje apresentamos uma entrevista com uma psicomotricista formadas pela Universidade de Évora (Portugal) que estudou por um período em Paris durante a Licenciatura.

Entrevista:

Nome: Léa Greffoz – Licenciada em Reabilitação Psicomotora (Universidade de Évora, Portugal)

A partir de sua experiência, como percebeste a Psicomotricidade como profissão na França? Sabemos que foi na França o início da Psicomotricidade, mas como esta é reconhecida hoje no país?

Léa Greffoz: A Psicomotricidade em França é vista como uma área da saúde que caminha lado a lado com a medicina. A integração nesta formação universitária revela ser muito exigente e formal fazendo se necessário a aplicação de testes psicotécnicos (e outros) com vista a avaliar a predisposição pessoal e intelectual dos futuros psicomotricistas. No que diz respeito ao seu reconhecimento não me parece que a comunidade francesa esteja propriamente ao corrente do que é a Psicomotricidade (e falo por experiência própria uma vez que amigos e familiares franceses me perguntam frequentemente no que consiste a minha profissão) contudo ela funciona sobretudo no seio das diversas aéreas medicais e escolares, isto é, os médicos sabem que podem reencaminhar casos, assim como psicólogos e terapeutas da fala, os professores conseguem identificar precocemente situações mais marcantes ou casos mais problemáticos no sentido de poderem ser avaliados e diagnosticados e assim de seguida. Os franceses acreditam nas potencialidades do corpo e sempre foi algo que os fascinou muito.

Existem muitas Universidades que disponibilizam a formação em Psicomotricidade no país?

Léa: Não sei precisamente quantas são mas pelo menos 3 universidades em França fornecem esse tipo de formação: a Faculté de Medicine – Paris VI, o ISRP em Marseille e a Faculté de Medicine em Toulouse. Com certeza que há outras.

Quais as principais áreas de atuação da Psicomotricidade na França? Quais os tipos de intervenção oferecidos?

Léa: As áreas de intervenção propostas em França são muito equivalentes às abordadas em Portugal: preventiva, reeducativa e terapêutica. A "única" distinção que vejo são os locais onde estes serviços são fornecidos. Lá encontramos Psicomotricidade em centros médicopsicopedagógicos, escolas, lares, ao domicílio, em estabelecimentos para pessoas idosas dependentes (com demências por exemplo), nos hospitais de dia, entre outros. Os tipos de intervenção são muito variados e incluem um aprofundamento teórico e prático de técnicas medicalmente reconhecidas e com suporte de grandes autores como Berger, Dolto, Brazelton... Para mim a Psicomotricidade não tem uma guia, tudo depende de quem somos e de quem temos à nossa frente .

Grande parte das pessoas no país conhecem e utilizam a intervenção em psicomotricidade?

Léa: Não penso que toda a gente saiba o que é a Psicomotricidade, mas quem a pratica e quem usufrui dela rapidamente consegue perceber as suas mais valias.

Em que área foi o seu estágio em França? Houve alguma história marcante durante o seu tempo lá?

Léa: O meu estágio em França foi num centro médicopsicopedagógico. Só tive a oportunidade de trabalhar com crianças e jovens adolescentes (provavelmente sendo a causa do meu atual interesse pela população infanto-juvenil). Muitos dos casos seguidos eram curiosos e interessantes mas o que mais me marcou foi o de uma menina com 5 anos (salvo erro). Era loira, de olhos azuis e com um ar tão dócil. A sua história de vida pelo contrário era assustadora. Durante a gravidez a mãe desta menina consumiu vários tipos de droga levando este bebé à nascença a também ele ser toxicodependente. Os serviços sociais tiveram de agir rapidamente tendo esta menina saltado de família em família de acolhimento. Ela não comunicava verbalmente, só a percebíamos através da comunicação não-verbal. A atuação com ela era essencialmente sensorial, uma vez que estava numa fase bastante tátil e de descoberta e com grande necessidade de afecto e de "maternage". Infelizmente as sessões com ela não eram regulares e o processo terapêutico foi altamente condicionado por esse mesmo motivo. Mas onde quero mesmo chegar, e isto já é fruto da minha reflexão, foi a fragilidade e a vontade desta menina em aprender a conhecer o mundo e a estabelecer relações de caráter seguro, pois apesar de lhe terem virado costas muitas vezes ela sempre continuou de braços abertos.

No geral, como foi a experiência de estudar por um período lá, tanto de forma profissional como pessoal?

Léa: A palavra que me vem à cabeça é "saudade". Apesar de ser uma palavra exclusivamente portuguesa é em França que a deixei, a saudade. Foram 3 meses espectaculares, com altos e baixos. Os baixos referem se à falta de apoio que senti face às duas universidades, era um projeto novo que deveria ter sido orientado de outra forma. Quanto à parte alta, diz respeito ao privilégio de poder morar num daqueles prédios com a sua arquitetônica característica, de poder ir comprar a baguette de pão à "boulangerie", de poder passear e desfrutar de tudo o que a cidade do amor tem para oferecer, de poder sentir o quanto um raio de sol nos pode fazer falta, de ter acesso a tudo aquilo que podemos imaginar, de passar momentos inesquecíveis com pessoas também elas inesquecíveis, de poder andar naqueles metros com anos e anos de vida, enfim é Paris. Simplesmente.

Tem curiosidade sobre a psicomotricidade em lugar do mundo? Mande suas sugestões para o nosso contato psicooque@gmail.com!

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