Um dos espaços de intervenção da Psicomotricidade são os hospitais. Apesar disso, existem ainda poucos trabalhos realizados por psicomotricistas dentro dos hospitais, seja atendendo pacientes de forma particular, seja como parte da equipe de profissionais pertencentes à instituição.
Entretanto, esta intervenção pode contribuir muito no tratamento do câncer. Nas próximas semanas falaremos um pouco sobre a psicomotricidade como forma de intervenção com crianças em tratamento oncológico.
A partir do momento em que recebe o diagnóstico, muitas mudanças podem ocorrer na rotina da criança, na vida social e em seu corpo. A criança acaba por vivenciar uma série de restrições à lugares, atividades ou mesmo alimentares. Diversas vezes, podem tembém ocorrer mudanças na rotina da famÃlia, que precisa se reorganizar para atender as necessidades de consultas, dias em que ocorrem os exames e tratamentos, além de dar continuidade à s atividades que eram de costume na famÃlia.
Segundo Marques (2004), Todas as mudanças na rotina, na famÃlia, na vida social e escolar, podem gerar na criança sintomas de estresse. O autor realizou uma pesquisa aonde foi avaliado o estresse em crianças em tratamento quimioterápico. A pesquisa teve como resultado 60% das crianças demonstrando tais sintomas, sendo os aspectos psicológicos os mais afetados e geradores do estresse.
Além disso, a partir de todas essas mudanças e do inÃcio do tratamento, muitas vezes ocorre uma não aceitação ao tratamento por parte da criança, podendo gerar uma resposta agressiva diante dos procedimentos necessários. É comum também algumas crianças demonstrarem-se mais tristes e mais dependentes do cuidador (Kohlsdorf & Junior, 2010).
Diante disso, são necessárias intervenções com a criança a fim de auxiliar e dar suporte para que esta passe pela fase do tratamento da melhor forma possÃvel. Afinal, atualmente a cura do câncer já não está mais limitado apenas ao sucesso terapêutico, mas é dado importância em se alcançar o potencial biológico, intelectual, psÃquico, emocional e social da criança, sendo necessário o acompanhamento de profissionais que trabalham com todos estes apectos ao longo de todo o tratamento (Perina, Mastellaro & Nucci, 2008, in Cohen & Melo, 2010).
Ou seja, o cuidado com as emoções, a socialização, o psicológico e mesmo as aprendizagens da crianças não podem deixar de serem investidas durante o perÃodo do tratamento.
Uma das estratégias que normalmente tem sido utilizada dentro dos hospitais, principalmnete por projetos sociais, é a intervenção a partir do lúdico, ou seja, do brincar!
E como a brincadeira pode ser eficaz no trabalho com crianças dentro dos hospitais?
O brincar, para Winnicott (1975), é terapêutico por si só! Além disso, o autor considera como próprio da saúde, contribuindo de forma eficaz no crescimento e nas relações grupais da criança! O brincar ajuda também na criatividade da criança, elemento essencial na constituição da autonomia da criança.
Além disso, através da brincadeira, a criança transmite suas vovências mais significativas. Na brincadeira é possÃvel que ela se coloque em papéis que não são possÃveis na realidade, o que muitas vezes a ajuda a trabalhar a sua angústia. No caso da criança hospitalizada, o brincar pode ajudar que esta lide melhor com o momento em que vive (Costa & Cohen, 2012; Mitre, 2000).
A brincadeira também proporciona para a criança experiências de alegria, satisfação e conhecimento sobre o mundo. No hospital se torna mais difÃcil a socialização da criança, por ser um local no qual abrange diversas doenças graves e, devido ao longo do tratamento, a criança receber certa restrição para visitas. O brincar oferece a possibilidade de socialização à criança durante este perÃodo de tratamento (Borges, Nascimento & Silva, 2008).
Possibiltando tantas experiências benéficas, o brincar acaba por contribuir com o aumento do sistema imunológico, fazendo com que diminua comportamentos como apatia e irritabilidade, ajudando em uma recuperação mais rápida e resgatando a alegria das crianças hospitalizadas (Borges, Nascimento & Silva, 2008). O brincar também influencia na melhora da oxigenação, na indução da relaxação e na melhora da auto-estima (Soares, 2003, in Borges, Nascimento e Silva, 2008).
As vivências proporcionadas por este tipo de intervenção não impedem que a criança vivencie momentos dolorosos. O que acontece é que a partir da intervenção, a criança pode trabalhar nela os sentimentos agressivos contra o tratamento, conseguindo lidar melhor com este. Ela passa a conhecer melhor o seu corpo e o tratamento pelo qual ela passa (Pedrosa et al, 2007).
Referências:
Borges, E.P.; Nascimento, M.D.; & Silva, S.M. (2008). BenefÃcios das atividades lúdicas na recuperação de crianças com câncer. Boletim Academia Paulista de Psicologia, 2(8), 211-221
Cohen, R.H., & Melo, A.G. (2010). Entre o hospital e a escola: o câncer em crianças. Estilos da ClÃnica, 15(2), 306-325.
Costa, M.R., & Cohen, R.H. (2012). O sujeito-criança e suas surpresas. Trivium - Estudos Interdisciplinares, 4(1), 59-64
Kohlsdorf, M. & Junior, A.L. (2010). Dificuldades relatadas por cuidadores de crianças e adolescentes com leucemia: alterações comportamentais e familiares. Interação em Psicologia, 14(1), 1-12.
Marques, A.P. (2004). Câncer e estresse: um estudo sobre crianças em tratamento quimioterápico. Psicologia Hospitalar, 2(2).
Pedrosa, A.M.; Monteiro, H.; Lins. K.; Pedrosa, F.; & Melo, C. (2007). Diversão em movimento: um projeto lúdico para crianças hospitalizadas no serviço de oncologia pediátrica do instituto materno infantil prof. Fernando figueira (IMIP). Revista Brasileira Saúde Materno Infantil, 7(1), 99-106
Winnicott, D. T. (1975). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago.
Nos próximos posts falaremos um pouco mais sobre de que forma o psicomotricista pode contribuir na intervenção com crianças em tratamento oncológico! Separamos também uma entrevista muito especial com a Coordenadora do Projeto Brincante, um projeto que ocorre no Hospital Pediátrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e que tem um lindo trabalho com estas crianças!
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