A Psicomotricidade está cada vez mais presente na intervenção com crianças com Dificuldades de Aprendizagem. Mas por que optar pela Psicomotricidade ao invés de dedicar este tempo em mais atividades na sala de aula?
Em estudos que buscaram observar os aspectos cerebrais que envolvem as dificuldades de aprendizagem, é observado o analisador sensório motor como um importante fator, pois todas as informações sensoriais estão envolvidas no ato motor. Ou seja, todo o cérebro está envolvido no movimento. E como já mencionamos nos outros posts, é comum crianças que apresentam problemas neurológicos de aprendizagem (que são as Dificuldades de Aprendizagens Específicas), apresentarem também algumas funções motoras deficientes (Calanchini & Trout, 1980).
Outro fator importante para a aprendizagem que também envolve algumas funções psicomotoras é a atenção. Para ocorrer um foco de atenção, é necessário que a pessoa seja capaz de autorregular e autocontrolar o seu corpo. Isso acontece a partir da utilização adequada de processos que inibem e excluem estímulos corporais de forma consciente ou inconsciente. Dessa forma, nós conseguimos manter livres os canais de informação, processamento e memória para que a aprendizagem ocorra (Komar, 2001).
A memória de trabalho é um aspecto importante a ser trabalhado pelo Psicomotricista. Esta capacita a criança a realizar diversas tarefas, respeitando a sua ordem, transmitida apenas no momento inicial. Por exemplo... Quando se dá uma determinada sequência de ações (sentar, levantar, bater palma, fechar e abrir os olhos e dar um salto), a memória de trabalho permite a realização de todas as ações na sequência que foi orientada, sem que a criança se perca pelo caminho. Esta função vai ser essencial em aprendizagens, como por exemplo, os cálculos.
Mas como intervir com crianças com dificuldades de aprendizagem?
Existem alguns problemas na organização psicomotora que são frequentemente encontrados em crianças com Dificuldades de Aprendizagem Específicas. São eles: lateralização (lateralidade), direcionalidade, imagem corporal, estruturação espaço temporal e praxias (Fonseca, in Cruz, 2009). Esses são alguns dos pontos analisados pelo psicomotricista no início de sua observação da criança a fim de trabalhar naqueles aonde houver dificuldade. Estas funções Psicomotoras podem também ser pensadas pelo psicomotricista em sessões com crianças em fase pré-alfabetização, de forma preventiva, sabendo que o desenvolvimento destas é essencial para a capacidade da escrita, leitura e matemática.
Outra aquisição muito importante a ser adquirida pela criança antes da alfabetização e introdução de cálculos é o pensamento simbólico. A aprendizagem da escrita e matemática se dá a partir da utilização de símbolos e também pela abstração. Por exemplo... Quando aprendemos que 2+2 = 4 estamos adotando o símbolo (+) correspondendo à uma determinada função: de adição. Além disso, sabemos que o símbolo 2 está relacionado à uma determinada quantidade. Quando uma criança junta duas laranjas + duas laranjas para entender que isso é igual a quatro laranjas ela está ainda necessitando de algo concreto, e ainda não conseguiu perceber o cálculo de forma abstrata, ou seja, ainda não conseguiu chegar ao pensamento abstrato.
E o que isso tem a ver com o simbólico?!
É a partir do pensamento simbólico que a criança é capaz de chegar ao pensamento abstrato!
Crianças que tem dificuldade de brincar de faz de conta, ou seja, simbolizar algo, demonstram ainda não ter adquirido bem o seu pensamento simbólico. Quando isso ocorre na fase de alfabetização o que se encontra frequentemente é uma grande dificuldade na sua aprendizagem. Cabe, então, ao Psicomotricista trabalhar de forma que a criança consiga passar do pensamento concreto ao simbólico para que, assim, esta possa chegar ao pensamento abstrato.
Para finalizar, ressaltamos que a imagem mental resulta da experiência sensorial, da combinação das várias sensações. Ou seja, quanto mais rica as experiências sensoriais, mais rica a nossa interiorização daquilo!
O objetivo da psicomotricidade nas dificuldades de aprendizagem específicas será trabalhar de acordo com o quadro da criança, a fase da aprendizagem em que se encontra e com suas possibilidades, buscando facilitar sua integração funcional a fim de auxiliar em sua aprendizagem (Komar, 2001).
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Referências:
Calanchini, P.R., Trout, S.S. (1980). Neurologia dos distúrbios de aprendizagem. In L. Tarnopol (Ed.), Crianças com distúrbio de Aprendizagem (pp. 167-201). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.
Komar, O.L. (2001). Intervención psicomotriz en hiperactividad, dificultades del aprendizaje y transtornos del lenguaje hablado y escrito. In V. Fonseca & R. Martins (Eds.), Progressos em Psicomotricidade (pp. 41-78). Lisboa: Edições FMH.