É comum as crianças que apresentam dificuldades na aprendizagem serem consideradas como preguiçosas e teimosas. Normalmente as dificuldades só começam a ser percebidas depois da entrada na escola e, com o tempo, começam a gerar um sentimento de fracasso. Antes, a criança era vista como inteligente, mas com o tempo percebe-se incapacitada em sua aprendizagem em comparação aos colegas. Muitas vezes, estas crianças, ao invés de receberem elogios e valorização de suas capacidades, começam a receber repressões e críticas, ou acabam por ser castigadas. Isso pode gerar uma falta de estímulo na criança, levando-a a não ter mais vontade de aprender. Assim, é característico neste tipo de criança o comportamento agressivo, brincalhão ou exibicionista. Algumas também acabam por encontrar refúgio na fantasia, ou seja, podem parecer estar sempre um pouco fora da realidade sendo muito apegados a temas de faz de conta (heróis, princesas, personagens, entre outros). Tudo isso pode acabar gerando na criança a fobia à escola (Tarnopol, 1980).
Mas, afinal, o que são dificuldades de aprendizagens?
Você sabia que existem dois termos diferenciados que se referem a dois tipos distintos da origem da dificuldade?
O termo “Dificuldades de Aprendizagem” tem sido utilizado de forma confusa pois passou a ser usado com diferentes sentidos que podem se referir a problemas de origem INTRÍNSECA, ou seja, da própria criança, ou EXTRÍNSECA, ou seja, externos à criança. Problemas de origem intrínseca podem ser por exemplo deficits intelectuais ou problemas no desenvolvimento. Normalmente estão associados a um fator neurológico. Já os de origem extrínseca referem-se a problemas exteriores à criança que acabam por ter influência negativa na aprendizagem, ou seja, fatores emocionais, experiências negativas nas relações familiares, o ambiente escolar ou o método de ensino inadequado, por exemplo (Cruz, 2009).
Existe uma outra confusão com relação ao termo. Muitas vezes se utiliza “Dificuldades de Aprendizagem” para falar de um insucesso ou fracasso escolar, ou para se tratar de necessidades educativas especiais. Além disso, é também utilizado para se referir à dislexias, disortografias e outros problemas específicos da aprendizagem (Cruz, 2009).
A partir disso, alguns autores diferenciaram dois termos relacionados à origens diferentes da dificuldade. A diferenciação do termo que vou apresentar é baseada em um autor (que também foi meu professor!) bastante utilizada em Portugal.
Podemos falar então de “dificuldades de aprendizagem” e “dificuldades de aprendizagem ESPECÍFICAS”. Falamos de “dificuldades de aprendizagem específicas” quando a criança possui dificuldade em sua aprendizagem devido a algo primário, ou seja, algo próprio da criança que impossibilita que ela realize determinada aprendizagem acadêmica, sem que ela tenha nenhum outro tipo de deficiência. São crianças inteligentes e espertas em diversas áreas, entretanto apresentam grande dificuldade especificamente em alguma capacidade acadêmica. Estariam neste grupo, por exemplo, crianças com dislexia, disgrafia, disortografia e discalculia.
Já o termo “dificuldades de aprendizagens” está ligado a sinais de dificuldades na aprendizagem acadêmica independente de sua causa, ou seja, podem ser causas externas, internas, neurológicas ou devido à alguma deficiência (Cruz, 2009).
No Brasil, utiliza-se muito os termos diferenciados entre “Dificuldades de Aprendizagens” e “Transtorno da Aprendizagem”, que seriam as Dificuldades de aprendizagens específicas. (Em Portugal não se utiliza o termo “Transtorno!”).
Sendo assim, é importante perceber a causa da dificuldade que a criança está apresentando, se é devido a algum fator externo (ambiente escolar, familiar, estado emocional, entre outros) ou alguma outra deficiência possivelmente ainda não diagnosticada (dificuldade visual ou auditiva, por exemplo), ou se realmente a criança apresenta uma dificuldade específica da aprendizagem. A compreensão da causa é importante por que, pra cada caso, é necessário um tratamento diferenciado!
Nos próximos posts vamos abordar alguns outros sinais que as crianças com dificuldade de aprendizagens específicas apresentam, alguns pontos importantes que são observados para se chegar ao disgnóstico e quem pode dar o diagnóstico!
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Referências:
Cruz, V. (2009). Dificuldades de Aprendizagens Específicas. Lisboa: Lidel.
Tarnopol, L. (1980). Introdução a distúrbios neurogénicos de aprendizagem. In L. Tasnopol (Ed.), Crianças com Distúrbios de Aprendizagem (pp. 15-31). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.